28.2.16

Costurando a vida

Toda quarta-feira eu acordo bem animada, porque é o dia da minha aula de costura. Sim, eu faço aulas de costura há quase um ano e amo! Quando digo que gosto de costurar metade das pessoas ficam admiradas e até admitem que gostariam de aprender a fazer suas próprias roupas e a outra metade me olha como se eu fosso um ser de outro planeta... não me importo, afinal, fazer o que todo faz e gostar do que todo mundo gosta nunca foi o meu forte.
Mas falando sobre costurar, essa atividade semanal tem me ensinado algumas lições ao longo desses meses. No início eu chegava em minhas aulas portando um arsenal de guerra, vários tecidos, revistas, aviamentos e até um caderno com croquis que eu mesma desenhava. Queria fazer um guarda-roupas completo em apenas três horinhas de aulas, míseras quatro aulas por mês. Eu tinha planos para fazer roupas em série, vários modelos, várias cores, muitas peças e todas feitas por mim com amor (eu julgava ser com amor...). Tenho certeza que a professora me olhava com pena e previa que minha ficha cairia um dia, podia demorar, mas um dia ela cairia. E caiu. Percebi que com aquele entusiasmo todo eu não iria aprender a costurar (com amor), eu montaria uma oficina chinesa de trabalho escravo.
Costurar com amor é outra coisa e requer muito mais do paciência e dedicação. É preciso ter consciência e estar de corpo, alma e coração. Só assim podemos aprender de verdade e fazer o amor durar, porque vida costureira não é fácil!
Costurar é um processo minucioso onde é possível perceber a importância de cada etapa para então se deliciar com a sensação de costurar o “vestido mais lindo do mundo”! É necessário planejar todos os detalhes do feitio:  tirar as medidas, modelar, riscar em papel, cortar o tecido, costurar (desfazer muitas vezes) e passar a ferro. Passar a ferro é importantíssimo! O vestido não fica pronto até você usar um ferro bem quente, tirando todas os amarrotados e pequenas imperfeições. O calor deixa tudo impecável, como na vida. Rubem Alves mesmo disse sabiamente que “...a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente”.  
Costurar me fez muito bem e tem me ensinado a cada aula que é preciso respeitar o tempo de cada etapa, inclusive na vida e que é preciso fazer as tarefas com c(alma), para fazer bem feito. Ah! E o mais importante, que o acabamento, o toque final da costureira, faz o coração de quem usa uma peça costurada com amor bater mais forte, o importante não é terminar uma peça, é terminar o “vestido mais lindo do mundo”!
Hoje sei que estou costurando com amor e com muita vontade de ser uma pessoa melhor, não melhor do que ninguém, mas melhor para o mundo.

Um comentário:

  1. Que amor! Gostei muito do seu texto, nada de ir com tanta sede ao pote, não é mesmo? Costurar é transformador! Beijo

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